Primeiro compositor brasileiro a conquistar notoriedade internacional

Primeiro compositor brasileiro a conquistar notoriedade internacional, Antonio Carlos Gomes nasceu em Campinas, São Paulo, a 11 de junho de 1836. Com seu pai, Manuel José Gomes, mestre de banda e pai de 26 filhos de 4 casamentos, aprendeu a tocar vários instrumentos, inclusive o piano, e aos 20 anos ajudava no orçamento familiar dando aulas de música.

O talento para a composição manifestou-se bem cedo: aos 18 estreava sua primeira Missa, dirigindo um conjunto musical da família. Nessa primeira fase, mostrava-se afinado com os primeiros sinais de um estilo musical brasileiro, presente em suas modinhas, entre elas a famosa Quem sabe? e em algumas peças para piano no estilo de música de salão, cujos títulos – A Cayumba, Quilombo, Quadrilha – evidenciam uma tentativa de introduziur no ritmo europeu da polca um certo condimento afro-brasileiro – e nisso ele seria um autêntico pioneiro.

Temperamento difícil, seus freqüentes desentendimentos com a família acabariam por levá-lo a transferir-se primeiro para Santos, aos 25 anos, e daí para o Rio de Janeiro, onde seria contratado como pianista ensaiador da Ópera Nacional e onde comporia sua primeira ópera, A noite no castelo, com libreto em português, estreada com grande êxito no Teatro Lírico em 1861. Dois anos depois estreava uma segunda ópera, Joana de Flandres, obtendo então do Imperador D. Pedro II uma pensão para estudar na Europa. D. Pedro, admirador de Wagner, teria indicado a Alemanha, mas Carlos Gomes, já então mais identificado com a ópera italiana, conseguiu mudar seu rumo para a Itália, graças aos bons ofícios da Imperatriz Teresa Cristina, filha do Rei de Nápoles.

Em Milão, discípulo de Lauro Rossi, diretor do Conservatório, começaria sua fulgurante carreira, iniciada com duas operetas, Se sa minga e Nella luna, cujas melodias foram popularizadas até em realejos. Mas o grande marco de sua carreira seria a ópera O Guarani, com libreto italiano baseado no romance de José de Alencar, estreada com grande êxito no Teatro alla Scala em 1870, aos 34 anos do compositor, com repercussão imediata em toda a Europa.

Num gesto precipitado, no intervalo da estréia, Carlos Gomes venderia por uma soma irrisória os direitos da obra ao editor De Lucca, que ficaria com os lucros a partir de então, restando ao autor apenas as glórias, inclusive o título de Cavaleiro da Coroa de Itália, conferido pelo Rei Vittorio Emanuele.

Sua produção operística incluiria outros quatro títulos: Fosca (1873), Salvator Rosa (1874), Maria Tudor,( 1879) e Lo Schiavo (1889).

Em seu último período de vida compôs ainda o poema vocal sinfônico Colombo para as comemorações do quarto centenário do Descobrimento da América e uma Sonata para cordas, de caráter brilhante e cujo movimento final, O burrico de pau, remete de certa maneira aos albores nacionalistas de sua juventude. A importância de sua produção operística ofuscou o restante de seu catálogo, que inclui duas cantatas, diversas páginas instrumentais da primeira fase e numerosas composições para canto e piano.

No Brasil, viveu um momento de glória quando aqui veio, consagrado na Europa, para apresentar suas três óperas já famosas no Velho Continente – O Guarani, Salvator Rosa e Fosca– no Rio de Janeiro, em Salvador e no Recife. Foi recebido "como um príncipe e como um rei", como escreveu ao Visconde de Taunay. Mas o apoio que recebeu do Imperador D. Pedro II, que lhe conferiu o título de Grande Dignitário da Ordem da Rosa pelo êxito obtido na estréia de Lo Schiavo no Rio de Janeiro, valeu-lhe o pouco reconhecimento do novo governo republicano, culminando com o seu retorno melancólico ao Brasil em 1895, já padecendo de um câncer de garganta, para dirigir o Conservatório de Música de Belém do Pará, onde morreu a 16 de setembro de 1896.

Considerado o mais importante compositor operístico das Américas e reconhecido como um dos mestres da ópera romântica, Carlos Gomes não teve, até hoje, o tratamento que lhe é devido em seu próprio país, onde os teatros de pera, mantidos pelo poder público, raramente promovem montagens de suas obras– um débito que já se torna secular para com uma das figuras máximas da nossa produção musical.

Fonte: www.abmusica.org.br